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Por Viviane Gomes e Maria Reis

A cada ano, torna-se cada vez mais clara a diretriz generalizada de reduzir o uso do plástico comum. A preocupação global com o meio ambiente, manifestada inicialmente na Conferência de Estocolmo em 1972, fortaleceu-se de forma definitiva no Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu o compromisso dos países signatários, com o arrefecimento da emissão dos gases de efeito estufa.

Na contramão de tais compromissos, o consumo e a geração de resíduos plásticos estão aumentando e são o principal fator de poluição dos oceanos. Segundo a ONU (2019), o mundo produz cerca de 300 milhões de toneladas de lixo plástico por ano (ONU, 2019), enquanto, em 2014, o volume era de 100 milhões t/ano. Isso representa um aumento de 300% no período, demonstrando um claro descompasso entre os acordos internacionais climáticos e a indústria.

Para que possamos ter uma ideia, só em 2019, o consumo de plásticos per capita no mundo foi de 53 kg, sendo de 80 kg nos EUA, 60 kg na Europa e 2 kg na Índia. Já no Brasil, a Abiplast (2019) contabiliza um consumo per capita de 34 kg. Apesar do avanço no processamento e fabricação dos materiais plásticos, eles geram dois grandes problemas: o uso de fontes não-renováveis (petróleo) para a obtenção de sua matéria-prima e a grande quantidade de resíduos sólidos, cuja maior parte, cerca de 85%, é descartada diretamente no meio ambiente (Silva & Rabelo, 2017).

No Brasil, um parâmetro para a percepção da necessidade de um comportamento mais sustentável da indústria é a produção de brinquedos (Abrinq, 2019). Seu faturamento dobrou nos últimos anos, passando de R$ 1,8 milhão em 2011 para R$ 3,6 milhões em 2018. Embora o registro econômico seja positivo, é fato que são produzidas anualmente quase 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos, sendo 13,5% de plástico em brinquedos, o que corresponde a 10,8 milhões de toneladas. Informações do Instituto Alana (2019) apontam que 90% dos brinquedos no mundo ainda são fabricados com plástico comum.

Os países de industrialização avançada adotaram métodos que objetivam atingir as metas pactuadas para atenuar o aquecimento global causado pelo efeito estufa. Uma das medidas foi financiar projetos de produção de carbono negativo e/ou de manutenção e preservação de áreas verdes, como forma de geração de créditos de carbono.

Neste sentido, o plástico à base de cana-de-açúcar, o chamado “plástico verde”, apresenta-se como uma alternativa eficiente do ponto de vista ambiental, por ter uma pegada de carbono negativa. Isto quer dizer que, quando o polietileno verde (Braskem, 2019) é produzido, esta captura CO2 da atmosfera, ajudando a mitigar a incidência dos demais gases de efeito estufa.

A Hasbro, desde 2018, está substituindo as embalagens com a inclusão de bioplástico, com a meta de chegar a 100% até 2022 (O Globo, 2019). Já a Mattel, este ano, anunciou a utilização de materiais plásticos 100% reciclados, recicláveis ou bio-baseados em seus produtos e embalagens até 2030 (Época, 2020). O primeiro brinquedo da fabricante que será alinhado ao novo objetivo é a Pirâmide de Argolas de Fisher-Price®, agora feita de plásticos à base de cana-de-açúcar.

A Lego, por sua vez, pretende atingir 100% de suas peças com “plástico verde” até 2030. Uma meta arrojada, que coloca a marca em local de destaque na contribuição para o cumprimento dos acordos climáticos pelos países em que estão instaladas as suas fábricas.

Com “peças verdes” produzidas a partir do etanol gerado pela cana-de-açúcar circulando no mercado desde 2018, além da redução de brinquedos de plástico comum no mundo, a Lego, em parceria com a Braskem, gerou créditos negativos de CO2 na atmosfera, conforme figura abaixo. Com isto, a empresa pôde reduzir sua pegada de carbono em duas frentes, quais sejam, com o sequestro de carbono do próprio cultivo da cana-de-açúcar e com a redução de resíduos, já que os produtos são recicláveis.

O “novo normal” que a pandemia do COVID-19 está constituindo exigirá um olhar completamente diferente e os hábitos de consumo já estão sendo remoldados. O impacto, provavelmente significativo, também implicará em acelerado avanço da tecnologia, possibilitando, assim, diversificação dos produtos com inserção daqueles que conquistarem caráter sustentável para as próximas gerações.

O consumo responsável torna-se agora, mais do que nunca, um caminho inexorável. A tecnologia com o etanol para o plástico verde é mais uma iniciativa para estabelecer uma economia circular mundial.

 

Para informações complementares sobre a geração de resíduos plásticos, acesse:

https://nacoesunidas.org/onu-meio-ambiente-aponta-lacunas-na-reciclagem-global-de-plastico/

https://www.wwf.org.br/?70222/Brasil-e-o-4-pais-do-mundo-que-mais-gera-lixo-plastico

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